Calma. Sentem-se todos os elementos unir-se num só ao ver a leve névoa pairar sobre o imponente Tejo, em mais um amanhecer perfeito. O sol espreita por entre os montes e colinas no horizonte e os seus raios, que ainda estão preguiçosos, beijam o topo da serra, das casas, das árvores cujas folhas nos ramos carregam com as gotas de orvalho que cairam durante a madrugada. Lá no alto, as aves saúdam o sol, com o seu bater de asas e as suas chamadas pelos mesmos da sua espécie. Ouve-se o silêncio. O silêncio tão forte de um rio que passa e nos leva numa viagem pelo seu leito. É a brisa calma, fresca, matinal que nos acaricia-nos a face, que faz o nosso cabelo esvoaçar levemente e que nos traz a paz interior. É sentada nas margens do rio, na relva daquele cais calmo que penso na magnitude daquilo que me rodeia. Que há algo muito maior que eu. São as serras que nos rodeiam, é o rio que nos acompanha, são as pessoas com quem convivemos, é a Natureza que nos cerca. É aqui que tudo faz sentido para mim, é este o sítio onde encontro a paz e sossego que preciso. É neste lugar que digo, com todo o ar que tenho nos pulmões "Estou em casa.", porque sei que aqui tenho tudo ou mais do que preciso. Há quem precise de ter gente, barulho, cores, movimento, vozes para se sentir bem. Eu não. Aqui tenho a calma, o conforto, a imensidão do silêncio e da segurança que me fazem sentir tão bem. Aqui, posso andar pelas ruas, sem quaisquer medos, apenas para sentir o ar nocturno que me acolhe. Aqui, toda a gente se conhece, mesmo entre gerações. Há amizades que se fazem entre jovens e velhos e que mudam a vida de cada um. Estou certa de que quando aparecem situações em que é necessário assistência, aparece sempre alguém que estende o seu braço amigo sem receio de ajudar. Porque é isso que somos. Uma terra onde toda a gente se ajuda e se dá bem.
A minha terra não é a excepção a alguns preconceitos que possa haver relativamente a terras mais pequenas. Temos a nossa quantidade de gente idosa, mas o que era de nós sem os nossos avós, sem as histórias de antigamente, sem aquela ligação ao passado e que nos fazem ver que evoluímos imenso desde então?
Temos a nossa quantidade de gente "cusca", mas o que sería de nós sem aquela cusquice, sem aquelas senhoras nas janelas das casas das ruas apertadas a contar as novidades umas ás outras? É isso que faz com que sejamos uma terra onde toda a gente se conhece e não há aquele sentimento de "anonimato". Mesmo que não se saiba quem passa por nós na rua, há sempre um "Bom dia!" na boca das gentes desta terra.
Temos a nossa falta(!) de quantidade de comércio aglomerado, quero eu dizer, centros comerciais, bares, discotecas, coisas que atraiam o pessoal jovem. Mas tendo em conta o que havia há uns anos e o que há agora, digo com confiança e orgulho que evoluímos bastante. Temos a nossa Casa de Artes, onde há sessões de cinema semanais e espectáculos conceituados que esgotam rapidamente. Temos o comércio local, que ajuda na regulação da vida das gentes daqui, e onde se reunem as senhoras (e senhores, porque não?) para falar do que se passa na nossa terra. Temos bares (poucos, mas temos) que costumam ter um bom número de gente. Temos a renovação de pessoal, digo, entrada de pessoal jovem, nas associações da vila (bombeiros, partidos, etc...). Sente-se que há a vontade de tornar este cantinho á beira-rio mais dinâmico e acho isso louvável. Até temos o nosso monumento natural, as magníficas Portas de Ródão, nomeadas para uma das 7 Maravilhas Naturais de Portugal.
Podemos ser um pouco isolados, estar longe das grandes cidades, dos sítios onde se passam as coisas, mas isso não quer dizer que sejamos menos que os outros. Somos um povo orgulhoso, que gosta de morar aqui, que quer dinamizar o seu cantinho e nunca o deixar morrer.
Na opinião deste bago de arroz, sempre direi isto e continuarei a dizer até ao dia em que Deus decida que está na minha hora, com o meu último fôlego: "Sou Rodense e tenho orgulho em sê-lo."